segunda-feira, 12 de abril de 2021

Por que eu não gostei tanto do capitulo 1010 de One Piece?

 Essa semana o fandom do mangá do pirata que estica ficou alvoraçado e isso se deve ao lançamento do capitulo 1010 (eu ainda não me acostumei com o número), e por mais que eu tenho gostado dele como um todo, digamos que talvez eu não compartilhe dessa empolgação e vim trazer aqui o motivo:

capítulo oficialmente gratuíto em português no mangáplus

Bom, pra explicar o porquê de não me empolgar tanto com este capítulo, eu tenho que dizer o motivo de todo o resto ter tido essa sensação: Zoro. Sim, o espadachim roubou a cena dessa vez, como já estamos acostumados a ver ele fazendo. Mesmo que o grande cliffhanger desse capitulo tenha sido o provável inicio do embate final entre o Luffy e o Kaidou, a participação do Zoro foi sem duvida incrivel. Além dele finalmente ter utilizado novamente a técnica do Ashura (que não víamos a anos), a Criatura mais Forte do Mundo sugere que ele usou o Haki do Conquistador (ou Haki do Rei, ou Tonalidade Régia, chame como quiser). E verdadeiramente eu consigo compreender o porque os fãs foram a loucura. Eu fui a loucura quando vi o Ashura, fiquei verdadeiramente feliz. Mas a sugestão (e sim, eu vou continuar tratando como sugestão por enquanto) de Haoshoku nem tanto. Não que eu odeie o Zoro, não é bem isso, mas isso acentua algo muito chato no fandom - e o motivo de eu ser tão distante dele - "os níveis". 

Eu honestamente não sei de onde isso surgiu, tenho minhas próprias hipóteses, mas são baseadas em porra nenhuma. Entretanto é algo que verdadeiramente enche o saco. Toda semana tem um vídeo de alguém no Youtube, ou um post em grupo do Facebook sobre qual seria o nível de tal personagem. E honestamente eu acho bem curioso "nível almirante", "nível Yonkou", "nível comandante", "nível primeiro comandante". Toda uma lógica matemática dos fãs de tentar colocar os personagens em faixa de poder de combate e discussões intermináveis sobre o assunto. E isso é um porre, pois parece que o mangá é só porrada, quando na verdade é o contrário. Arrisco dizer, que desde o timeskip (talvez até antes), a historia não se foca em lutas, ele usa os tradicionais duelos do gênero de ação que o mangá está inserido pra desenvolver o plot, ou personagens, ou o mundo. Um exemplo disso pra mim é um dos mais recentes e polêmicos, a luta do Katakuri. Na época, e até hoje em dia, não é difícil encontrar fãs que ficaram frustados com o resultado da luta, onde o Luffy apanha, apanha, apanha e depois de apanhar, apanha mais e depois ainda mais um pouco e no final "vence". Eu já discordo dessa interpretação que o Luffy venceu, na realidade o Katakuri deixou o Luffy fugir, abandonando todo seu orgulho e finalmente demonstrando "fraqueza" ao deitar suas costas no chão. Não porque ele estava preocupado com a Mama, o reino ou qualquer outra coisa, ele só queria ter a oportunidade de enfrentar o Luffy novamente, porque a forma como o chapéu de palha evoluia na luta, aprendia e ficava mais forte o admirou, e pela primeira vez em anos (ou talvez na vida toda) o general doce estava tendo a oportunidade de lutar com tudo o que tinha, sem ter vitórias avassaladoras como o mangá deixa bem claro, e foi uma postura que não existiu desde o início, no começo o objetivo dele era meramente massacrar o Luffy, entretanto ao longo do combate, a forma como por mais que ele tentasse, e o garoto não parava, e não só isso, ficava cada vez melhor ganhou sua admiração. E isso envolve ainda aquela habilidade do Luffy descrita pelo Mihawk durante a Guerra dos Melhores, o Luffy tem a capacidade de trazer todos para seu lado, seja seus antigos oponentes ou até os atuais. O Crocodile em Marineford foi conquistado pelo Luffy (ou vocês realmente acreditam naquele papinho de "não deixar os marinheiros fazerem o que quiserem"?), assim como os Piratas do Barba Branca, ou os membros da Grande Frota, ou o Fujitora, ou até o mesmo o próprio Katakuri. E pra mim é isso que a luta ali quer contar, não é quem é o mais forte, se o Luffy está num " nível primeiro comandante" ou num "nível segundo comandante", fodasse isso honestamente, o que eu quero saber é o que aqueles dois caras esquisitos trocando soco tá me dizendo.


Aí alguns podem me perguntar "ain, você não gosta então só pela reação dos fãs?". E a resposta pra essa pergunta é não. Na realidade esse é o menor porém que eu tenho, o meu maior problema tá que esses feitos demonstram o que? 1 - O Zoro é realmente um cara muito dedicado, que treina se esforça e supera seus limites. 2 - O Zoro está destinado a ser um rei (considerando que ele de fato tenho o Haoshoku). Então vamos lá, sobre o primeiro. Talvez eu seja suspeito pra falar (e já vou explicar o porque), mas o Zoro é um personagem tipicamente de Battle-Shonen, é um cara determinado, que tem o objetivo de ser o maior espadachim do mundo, tem um passado triste, e tenta a todo momento se superar, se tornar mais forte e cumprir sua promessa. Isso é ruim? Não, todos nós acompanhamos milhares de animes e mangás que o protagonista é basicamente isso, o Zoro poderia inclusive ser o protagonista de One Piece. O Naruto é muito similar, o próprio Midoriya é muito similar, e um dos principais motes de Boku No Hero Academia é o "SARA NI MUKUE PURUS URUTORAAAAAAAAA" ou em tradução livre para o inglês "GO BEYOND, PLUS UUUULTRAAAAAAAAAAAAAA" e que para o português quer dizer "Vá além, Plus Ultra" (não vou traduzir isso que fica ridiculo). E pra piorar, Black Clover é BASICAMENTE isso, superar seus limites, ser mais forte e etc. Além disso ser algo recorrente em diversas obras do gênero como Bleach, Fairy Tail, Jujutsu e dezenas de outras, e One Piece não é diferente disso, as maiores representações disso tão justamente no Luffy e no Zoro, sendo o Zoro a mais cuspida de todas. Isso torna o Zoro ou o Luffy personagens ruins? De forma alguma. Mas enquanto o Luffy tem todo um leque de dezenas de outras caracteristicas, que pra mim fazem dele um personagem interessantissimo e único no gênero, o Zoro as vezes me parece só mais um. E de novo, isso não torna ele ruim, mas eu não leio One Piece pra ver o que eu já posso ver em dezenas de outros mangás do gênero, na realidade, o que faz One Piece ser minha obra favorita é que mesmo num gênero tão saturado de trabalhar os mesmos temas de sempre, contar as mesmas histórias, ele se diferencia em diversos outros aspectos que não estão presentes em seus pares. E esse momento do Zoro, pra mim não representou nada além do que eu já leio toda semane em cerca de 40 mangás da Shonen Jump e muitos deles nem precisam ser mangás de ação, tem mangás de esportes, mangás de comédia, e até mangás de culinária que tratam dos mesmos temas.
Lembra que eu disse ser suspeito pra falar isso? Então, por que eu seria? Bem, meu personagem favorito é o Sanji, então pode acabar soando como um Sanjitard simplesmente querendo desmerecer o Zoro (como se espalhar a palavra da Igreja Universal da Cozinha de Sanji fosse de grande importância na minha vida) mas é só uma análise que eu faço, a alguns capítulos eu vi muitas reações negativas do fandom a atitude do Sanji em relação a Black Maria e a Robin quando ele pediu ajuda. Do meu lado eu fiquei verdadeiramente emocionado. Eu pretendia escrever um texto sobre isso na época, mas as correrias da vida acabaram me impedindo de fazer e acabou passando o hype, então vou tentar resumir aqui um pouco. Aquele pedido de ajuda do Sanji mostra um baita desenvolvimento dele, da Robin, da relação deles e inclusive de como ambos evoluiram. Os dois passaram por situações bem parecidas, querendo se sacrificar pelo bando. A Robin sempre teve a crença de que todos não confiavam nela, e o Sanji preferiu resolver tudo sozinho. Em Enies Lobby, quando o Sanji estava lutando contra a Califa pra justamente salvar a Robin, ele não pediu ajuda a ninguém por orgulho. Ali ele entendeu a importância de que todo mundo tem suas limitações, e fazendo uma ligação com a fala do Luffy em Arlong Park, de não poder navegar, usar espadas, cozinhar ou mentir, mas poder derrotar o Homem Peixe. O Sanji não poderia derrotar a Califa, ele não consegue bater em mulher, é uma limitação dele, e pagou o preço por não pedir ajuda. E depois quando ele salva o Sogeking do Jabura, ali mostrou que ele tinha entendido isso quando dá aquele discurso exatamente sobre esse tema. O Usopp não poderia derrotar o Jabura, o Sanji poderia, mas o Usopp poderia salvar a Robin, o que o Sanji não era capaz, assim como ele não podia recuperar a chave da Califa, e quem podia era a Nami. Isso demonstra um sinal de companheirismo, e que o Sanji, ao enfrentar um inimigo gigantesco, seu passado, sua família e um Yonkou em Whole Cake, não reconheceu sua limitação novamente, e decidiu resolver sozinho, como tentou fazer com a Califa, e precisou ir metade do bando se arriscar, causar a maior merda pra ele perceber que ele tava errado, e tava tudo bem pedir ajuda. É interessante, eu não acho que tenha sido uma contradição com o que ele fizera em Enies Lobby, eu acho que foi ele reforçando valores que por mais que ele tenha aprendido naquele momento, acabou falhando com isso quando tinha uma situação muito pior na frente dele, é humano, é norma, todos nós já passamos por esse tipo de situação. E depois de Whole Cake, ele entendeu isso de fato. Afinal, agora, ele estava em um momento onde precisava de ajuda, e mesmo que fosse uma armadilha, ele engoliu o orgulho, e pediu ajuda da Robin, mesmo com o receio da armadilha, ele tinha total confiança e ciência que a Robin não seria derrotada pela Black Maria, e ainda diz que ali não seria útil e decide ir para onde pode ser mais útil. E é por isso que aquele tapão da Robin na Tobiroppo pra mim representa bem mais que o corte do Zoro no Kaidou, tem uma história sendo contada ali, não é só ele se superando. Além de a própria Robin, que sempre foi esquecida, sempre se sentiu como uma traidora, sabia que a qualquer momento seria traída ou traíria alguém, viu uma pessoa que tava pedindo ajuda dela, honestamente, não pra trair ela, mas porque sabia que ele não tinha condições de fazer nada, e sabia que ela por sua vez não deveria se preocupar por reconhecer sua capacidade, pra mim é mais interessante que ver o Ashura de novo (que eu adorei). E não é como se o Zoro não tivesse esses momentos também. Ele demonstra isso quando acerta o Apoo e dá um discurso nervoso para o Queen sobre não estar ali pra gracinhas, ou quando na cena MARAVILHOSA onde ele se sacrifica pelo Luffy em Thriller Bark. Quando o Zoro aceitou ser da tripulação, ele disse ao Luffy que se os objetivos de ambos entrassem em conflito ele mesmo mataria o capitão. E ali entrou, ele estava disposto a dar a sua vida, desistir de seu sonho pelo sonho do Luffy, porque o carisma do Chapéu de Palha fez isso, aquilo mostrou uma evolução do personagem e mostrou que ele também não é só superar seus limites e ser cada vez mais forte. Ele podia inclusive ter deixado o Sanji fazer aquilo, teoricamente eles não se gostam, o Zoro do começo talvez deixasse, mas o Zoro de Thriller Bark não poderia se dar ao luxo de sacrificar um de seus companheiros, mesmo que fosse o Sanji - e o Sanji agiu da mesma forma, desisitindo do seu sonho pelo do Zoro, e isso demonstra muito um amadurecimento de ambos e inclusive essa questão do Sanji querer resolver tudo sozinho - que todos pensam que se odeiam, mas é muito mais uma questão de rivalidade entre dois caras extremamente orgulhosos. Ou seja, o próprio Zoro tem momentos que pra mim são muito melhores que esse, momentos que de fato acabam me emocionando, esse igual o do capitulo 1009 onde o "Zoro tankou" foi apenas masturbação visual de Battle Shonen. É lógico que a gente gosta, se não eu não leria 40 mangás por semana do gênero, mas no que tange toda a obra eu acho pobre.

E tem o segundo ponto, que pra mim é bem mais grave: O Haoshoku. A presença desse poder na obra, já me causa certo desconforto, "o poder que os destinados a grandes feitos têm". Isso volta naquele papo de determinismo que eu citei no meu último texto. Eu não gosto desse conceito, ainda mais em One Piece, uma obra sobre liberdade. Eu quero que o Luffy seja o Rei dos Piratas porque foi inspirado pelo Shanks, e sua personalidade fez com que ele ganhasse aliados poderosos e do seu próprio esforço junto de seus amigos ele chegou lá. Não porque ele é filho do Homem mais procurado do mundo, ou neto do herói da marinha, ou por ter D. no nome ou até por ter um poder especial. Mas tudo bem, eu consigo aceitar, já que o Doflamingo e a Hancock tem o mesmo poder e não vão ser o Rei/Rainha dos piratas (ou vão?). Mas no Zoro, o Zoro nada mais é que um cara de cabelo verde que queria ser o mais forte, ele é um homem comum, e mesmo sendo um homem comum, ele treinou, se esforçou e tá ai, entre os grandes do mundo contribuindo e inclusive ferindo o Kaidou. Eu teria vibrado muito mais se a desculpa fosse simplesmente o que o próprio personagem falou "Eu só dei tudo de mim pra tentar te derrotar". Não por ele ter Haoshoku, ou por ele tar com a espadinha mágica do Oden, mas por ele vir fazendo o que pode pra se tornar mais forte. E aí é aquilo, o determinismo, eles estarem destinados a isso, e não por favor, não faz isso comigo, o que destruiu Naruto foi isso, não façam o mesmo com One Piece de verdade, eu quero que as ações e a vontade dos personagens, numa obra falando sobre liberdade e fazer o que quer tragam estes resultados, e não estar previamente destinado a isso por alguma força superior.

Enfim, dito isso, fica aqui o motivo de esse momento tão ÉPICO e foda do Espadachim de cabelo verde, acabou sendo só mais uma cena legal, e não algo que me contou uma história bacana.

Nenhum comentário:

Postar um comentário